sábado, 21 de outubro de 2017

Que bom que ainda existe



Cheiro de terra molhada
Voz rouca dizendo 'eu te amo' nas madrugadas
Outro dia
Outras pessoas

sábado, 30 de setembro de 2017

Para Elza Soares



Gostaria de confidenciar uma vontade quase antiga. Quero enviar uma cartinha estilo tiete para uma artista. Estou buscando e-mail de contato com a produção da cantora Elza Soares ou com a própria. Já fiz busca pela internet mas alguns contatos parecem desatualizados. Se souberem de algum contato atual, já estou agradecendo. 

Agradecendo desde agora.

Eis as palavrinhas desajeitadas:
           

Olá,
Embora esse contato trate especificamente de contratos para shows de Elza Soares, não é o motivo que me leva a contactar a equipe. Eu não sei se através deste meio  irei conseguir que essas palavras cheguem até Elza Soares mas a tentativa será insistente.
Elza,
Meu nome é Luziana, sou brasileira, baiana e tenho 26 anos. Atualmente estou vivendo no Texas, EUA.
Não sou cantora e nem compositora. Não trabalho com e nem estudo música mas a minha relação com música é grandiosamente arrebatadora. Respirar música faz minha vida mais feliz. 
O motivo da tentativa deste contato é para lhe dizer que aprecio seu som, suas cores e seu brilho ímpar. Tenho consciência da sua importância na história da música em nosso país e no mundo. A sua história de vida me emociona e me inspira. Seria uma honra poder te prestigiar algum dia em algum  palco da vida. Aqui em minha casa, você está sempre presente.
Sem mais e com muito orgulho,

Luziana E. Bateman 

email: luzletras@hotmail.com


terça-feira, 12 de setembro de 2017

felicidade?


CANTIGA TRISTE
Por Rubem Alves


Eu compreendo a preocupação dos meus amigos. Houve mesmo uma amiga querida que, de tão preocupada, trouxe-me uma maravilhosa garrafa de Jack Daniels, elixir dos deuses dionisíacos, na certeza de que os poderes daquele líquido me trariam de volta uma alegria que parecia perdida. Pois é, era isso que eles estavam pensando, os meus amigos: que a alegria me havia abandonado.

[...] Se tivessem prestado atenção, teriam ficado um pouco mais sábios e compreendido que a alma vai bem não é quando tudo está bem:À saudação costumeira – "Então, tudo bem, tudo tranqüilo?" – eu respondo sempre: "Nem para Deus, todo-poderoso, as coisas estão bem tranqüilas". A alma vai bem é quando ela é capaz de dançar nas costas do Diabo.

Por oposição à amiga que me deu o Jack Daniels, soube por vias indiretas de uma pessoa que se decidiu a não mais me ler, alegando que eu era deprê. Fiquei muito ofendido, pois isso significa que sou uma garrafa de Sleinad Kcaj – bebida que você nunca viu em prateleira de importados, a não ser que você tenha visto o Jack Daniels refletido num espelho, pois é isto mesmo que este nome, que mais parece palavra croata, quer dizer. Jack Daniels de trás pra diante. Ou seja: se o primeiro é garrafa de alegria e leveza, o Sleinad Kcaj, eu mesmo, minhas crônicas, são garrafas de tristeza.

Contra-ataco com o verso da Adélia Prado, que tem a alma parecida com a minha: "Cantiga-triste, pode com ela é quem não perdeu a alegria". E querem mais? "Por prazer da tristeza eu vivo alegre". E querem mais? "Amor é a coisa mais alegre; amor é a coisa mais triste; amor é a coisa que eu mais quero".

Terror mesmo eu tenho é dos alegrinhos, animação das festas, onde todo mundo é obrigado a estar alegre. Ai, que canseira, que vexação para o espírito! Alegrinho gosta mesmo é de chopinho com queijinho, coisa muito boa, eu mesmo gosto, mas não como comida-espanta-beleza. Alegrinho nem gera nem pare beleza. Não agüenta o pôr-do-sol. Fica logo com olhos e alma perturbados. Aí desanda a fazer barulho, a produzir agito, diz que é alegria, happy hour, quando na verdade é só medo do silêncio.

Mas que droga de alma é esta que é tão gelatinosa que não suporta a visão do belo? Tem terapia para tratar os deprimidos. Pois eu vou inventar uma terapia para tratar os alegrinhos. E vai ser tempo lacaniano. A sessão só vai terminar quando eles chorarem. Vão escutar Beethoven e Mahler para deixar de ser gelatinosos e aprender a força que existe na tristeza. E terão de passar por Van Gogh e Monet para aprender as lições do tempo (quem tem medo da tristeza, no fundo, tem é medo do tempo). E pela Cecília Meireles e pelo Robert Frost, para se sentirem bem no outono e no entardecer.

Quem não consegue fazer amizade com a tristeza é candidato ao consultório dos psiquiatras e às dietas de antidepressivos e tranquilizantes. Quem faz as pazes com a tristeza aprende também a beleza, porque as duas sempre andam juntas. Certos estavam os judeus que, nos rituais da Páscoa, misturavam ervas amargas com a comida. Pois a vida é assim.

O Vinícius dizia que tinha vontade de chorar diante da beleza. A Adélia diz também que o que é belo enche os olhos d'água. Os Beatles têm aquela balada que diz "Because the sky is blue it makes me cry" ("Porque o céu é azul eu choro..."). Eu choro lendo poesia; choro ouvindo música, choro vendo pintura. e minha alma vai muito bem e nem quero ser diferente.

Já imaginaram este absurdo de eu parar de olhar para o céu azul, para o sol poente, para as obras de arte, para evitar o choro? Repito a Adélia: "Por prazer da tristeza eu vivo alegre". A beleza é o prazer da tristeza.

Você não entende por que a gente chora diante da beleza? A resposta é simples. Ao contemplar a beleza, a alma faz uma súplica de eternidade. Tudo o que a gente ama a gente deseja que permaneça para sempre. Mas tudo o que a gente ama existe sobre a marca do tempo. Tempos fugit. Tudo é efêmero. Efêmero é o pôr-do-sol, efêmera é a canção, efêmero é o abraço, efêmera é a casa construída para o resto da vida.

A gente chora diante da beleza porque a beleza é uma metáfora da própria vida. Por isso imaginamos os deuses... Pois, o que são os deuses se não os poderes que farão retornar as coisas amadas perdidas? Quando o coração diz: "Que a beleza seja eterna!" – nesse exato momento nasce um deus. Então, não se aflija. Minha alma vai bem. Ela pode com cantiga triste. Vou cantando uma canção antiga, esquecida, de Denoy de Oliveira e Ferreira Gullar: "Como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena".

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Carta aberta à Olivia - A primeira

Filha:

São muitas as marcas que você tem deixado em mim. Algumas, é verdade, não tão agradáveis aos meus olhos: algumas estrias nas ancas, uma cicatriz mágica e um corpo que se transformou inteiro com o único propósito de gerar você. Olho para essas mudanças no espelho e me alegro por ter a felicidade de viver esse momento. Essas marcas passam a ser insignificantes em meio ao meu peito cheio de leite e de um amor inédito nascido desde o dia que descobrimos sobre a sua existência em nós.

Esse amor foi ganhando forma e proporção à medida que você também ganhava a sua própria. Um dia você foi do tamanho de um único grão de gergelim e, de repente, nos contaram que você correspondia ao tamanho de um abacaxi. O que eu vivia não fazia sentido no espaço e sequer no tempo cronológico, tudo acontecia em um piscar de olhos e, enquanto isso, o nosso amor por você se expandia em cada decisão que tomávamos  e explodia em nossos olhos. Os sentimentos se multiplicavam a cada chute que você dava e cada movimento do seu coração, esse que batia acelerado, tão pronto pra vida que te esperava aqui fora. 
Por mais que eu tente te contar sobre a alegria de ter você, eu continuo me perguntando e me repetindo: como organizar em parágrafos todos esses sentimentos difusos? Tenho certeza que essa sintaxe está muito bagunçada mas não quero edição, não quero corrigir nada. Que as palavras venham de forma orgânica, assim meio cruas e loucas. Amar é uma loucura e é  sobre esse amor que venho tentando falar desde o dia que descobrimos você. Até aqui, tenho uma única certeza sem medo de errar, você foi a melhor descoberta de minha vida, Olivia.

Estou tentando escrever sobre o seu acontecimento em nossas vidas, filha, tenha paciência, não é fácil colocar em palavras e, menos ainda, fazer com que elas tenham sentido. Faz tanto tempo que tento escrever algo e, quanto mais eu tento, mais complexo isso se torna. A emoção de sua existência me deixou por um tempo muda, meio abestalhada. Ela ultrapassou as minhas gramáticas e vocabulários. Entre o exercício de escrever e ler, vou achando tudo isso engraçado. Escrevo uma linha e releio... rio, choro e vibro. E algo surpreendente acontece: de alguma forma, reconheço essa sensação tão deliciosamente estranha... é quase como um deja vu: estou apaixonada por você como um adolescente tentando declarar o seu amor.

Já li poemas diversos, dos desconhecidos aos antigos. Já escutei as minhas canções favoritas, companhias preciosas e uma das maneiras mais sofisticadas e simples que encontrei de me comunicar com o Universo. Fiz também longas e silenciosas caminhadas sozinha, algumas delas, acompanhada pelo seu pai, o homem mais íntegro e encantador que já conheci na vida. Enquanto te carregava no ventre, visitei alguns lugares encantados, assisti documentários e filmes dos mais tolos aos mais interessantes, saboreei comidas exóticas, escrevi e recebi cartas de pessoas queridas, comecei um curso básico de fotografia, visitei um templo de oração, me despedi do meu ofício de professora por um tempo, fiz um pacto com o seu pai, comecei a me interessar por leituras que não faziam parte de minhas curiosidades e tantas outras aventuras vividas enquanto você crescia, latente e pulsante dentro de mim.

Mesmo depois de tantas vivências novas, mesmo assim, as palavras não apareciam e ainda não parecem eficientes para descrever tudo que carrego no peito por e para você. Pretendo escrever mais cartas e o desejo aqui é só o de ser e deixar ser. Permitir que as palavras ganhem sentido não sob o recurso  de normas gramaticais mas através do que sinto agora olhando para você nesse cochilo sereno, parecendo um passarinho voando.

Até breve,


Sua mãe




Ps. Estou a quase 78 minutos admirando você dormir.








quinta-feira, 13 de julho de 2017

Fazendo minhas contas



O que os outros dizem, pensam, supõem sobre mim não é da minha conta.







segunda-feira, 3 de julho de 2017

Sobre Envelhecer





Velhos brincos.
Novas marcas de expressão.
Envelhecer é uma sorte!

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Pseudo-fado



Rascunho em um papel usando tinta leve
um poema de amor com final muito breve.
Faço de meu desejo, o palco onde você pode entoar 
todo o seu canto, o seu realejo
Deslumbrado, despejo em sua pele
o meu olhar pidão
Desisto do poema e caio no chão 
vitima do seu corpo, enleado,
rabisco um pseudo-fado
e me atiro, desorientado, ao mar


bem português. 






 




quinta-feira, 15 de junho de 2017

Algo Urbano em Mim

A beleza da cidade
Seus prédios arranhando céus
Aquela mistura de sonoridades e pessoas apressadas pelas ruas
As luzes dos semáforos piscando freneticamente
Os guardas com seus sinais e apitos...
Tudo isso me faz sentir retrógrada  nesse universo urbano e, simultaneamente, progressista no quintal de minha casa.



 

terça-feira, 23 de maio de 2017

Conto de bar

Perguntei qual era o seu status.
Encolhida como embrião, respondeu.
Pensei: deve ser frio ou tristeza.
É quase verão, disse ela, como quem lera meu pensamento.
Naquela noite, a levei dali embrulhada em meus braços.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Civilização

Nascemos evoluídos e vamos crescendo involuídos.
Começamos grandes e vamos nos tornando pequenos.




quarta-feira, 3 de maio de 2017

Patuá

Que seja franco e vindo sempre de dentro
Que seja o seu melhor e  o mais poderoso amuleto
O seu sorriso, filha.

terça-feira, 2 de maio de 2017

Scars

Eu aceito minhas cicatrizes! Elas refletem minha fragilidade e fortaleza. Tatuadas em meu corpo ou n'alma, elas me norteiam me lembrando os caminhos que percorri e quem sou verdadeiramente.

I accept my scars! They reflect my fragility and my strength. Tattooed on my body or in my soul, my scars remind me of the paths I've been through and who I truly am.


sábado, 29 de abril de 2017

Dois buraquinhos

Dois buraquinhos e um burburinho
Juntando o seu no meu coração
Pacto de sangue
Amor nascente
Você não  é fruto e nem semente
É flora e fauna inteira
Invadindo o meu terreno
Tirando o meu chão (Oct 20, 2016)


sexta-feira, 28 de abril de 2017

Chuva

Companheira de todos os momentos
Desorganiza meus silêncios
Escorre lá fora enquanto escorrega uma lembrança cá dentro
Pinga mil gotas
Pisca um farol
Arranco o motor
Passei o sinal
Dos limites do que está íntimo
Guardado a sete "gotas" em meu pensamento


Á espera

Esperando que você me apanhe pelos ouvidos
Que me apanhe pela estranha linguagem  desse olhar e me fale com as mãos o que a sua voz oculta