quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Pai

 

Há alguns anos, disse ao meu pai que ele era uma composição revestida de pedra e pétala. 


A pedra é sinônimo de resistência e força mas também de rigidez. Já a pétala, simboliza delicadeza e fragilidade mas também doçura. Sim, ele expressava a sua doçura de formas bem específicas, quase imperceptíveis, mas estavam lá, eu as via. 


E foram através dos significados dessas  duas propriedades, pedra e pétala, que minhas conversas com o meu pai foram norteadas e aprofundadas durante os últimos anos de sua vida. 


Eu posso testemunhar que, ao longo desses últimos cinco anos,  vi a pedra se quebrar várias vezes em meu colo mesmo estando geograficamente tão distante. E eu também vi a pétala resistir a muitos temporais. 


O “seu Luis da mercearia”, como tantos aqui o conheceram, passou por um processo de transformação espiritual silencioso durante esses últimos três anos de sua vida. Eu ouvi  confissões de arrependimentos e lamentos, eu vi um homem que ia entregando o seu coração a Deus em meio às incertezas do futuro porque ele já entendia que só restava para ele uma vida de fé em Jesus Cristo como também nos lembra Pedro no livro de João 6:68: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna.”


Eu vi o coração de um homem embrutecido e calejado pela vida se quebrantando ao passo que professava a sua fé e como filha, eu posso dizer que foi um privilégio tê-lo apresentado o Deus que hoje sirvo mas que o neguei durante 21 anos de minha vida, esse Deus que conheci há seis anos e que mudou todo o meu viver e certamente o do meu pai também. 


Pai: os seus valores de honestidade, integridade, hombridade, dignidade, coragem serão cultivados por mim e por Thalys pelo resto de nossas vidas. São a nossa verdadeira herança. A devoção que o senhor e a nossa mãe tiveram no compromisso da família e o amor de vocês dois serão para sempre lembrados por nós. 

Nos veremos na Glória! 


Agradecemos à todos os amigos e familiares que oraram pela vida do meu pai e que a vontade do Senhor fosse feita.  


“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto.” (Romanos 8:28)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Georgós

 



Eu não consigo lembrar de você sem o seu violão, o seu sorriso com ares tímido (mas grandão) e a voz que aplacava o coração de quem te ouvia cantar. 


Como volto agora para o nosso bairro sabendo que não terei a menor chance de ter  o nosso encontro quase telepático       debaixo do pé de tamarindo? Eu quase posso escutar as suas gargalhadas misturadas às nossas teorias inventadas: eu tentando renomear o nome dos planetas e você, reagrupar a tabela periódica. Eu criando rimas e você, algumas estrofes. Eu tentando recitar Florbela Espanca e você, adicionando Tim Maia pelo meio. Eu te contando sobre como eu odiava Latim e você, cantarolando qualquer coisa de Julio Iglesias só para me irritar. (e eu amava) 


Como vou olhar para qualquer  árvore frondosa em noite de lua brilhante e céu bem estrelado e não recordar essa voz tão, tão sua? Eu queria tanto ter te apresentado à minha família… tanto! Íamos formar um soneto de gargalhadas.


“Lu, Lu… minha amiga Lu. Vai dormir, menina.” Você dizia toda vez que passava e lá íamos tagarelar, feito duas matracas, coisas que ninguém entendia. Eu estava doida para te contar que aprendi a dormir cedo e acordar com as galinhas. Tantos anos se passaram, tanto aconteceu… 


Parece até ironia, ainda  hoje imaginei você cantando em um luau que sonho há anos. Você sempre esteve nele em minha cabeça e, às vezes, me perguntava se você iria aceitar ao meu convite. Já não importa, o luau será cancelado, ele não teria a menor graça sem você. Nenhuma! 


Estou desde a notícia de sua partida meio muda, desprovida de qualquer reação, tão contrário  às lembranças que tinha de mim quando te encontrava. Não fomos amigos de longas datas, bem verdade. Mas o pouco de você se agiganta em qualquer pessoa que teve a alegria de te conhecer, tenho certeza disso. Você é uma recordação (persistente) bem singular de minha juventude e eu devo agradecer muito a Deus por ter me presenteado esbarrar em você no meio de tanta, tanta gente. (você diria, 8 bilhões de pessoas. Eu retrucaria com uma teoria maluca qualquer e riríamos juntos pela derradeira vez). 

Ah, Jorge… 
Já estou aqui imaginando você tocando o seu violão espacial tão bonito quanto o seu sorriso, batendo altos papos com Jesus e enCANTANDO para o nosso Criador. 

Com afinco e afeto, (como você me escrevia)

Lu 


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

A certeza

Duas Veras

Duas Taylors 

A minha certeza: 

Deus.


terça-feira, 29 de outubro de 2024

Que nem Haikai

 

                The Red Bicycle by Henry Gordon 


Sonhei com um Conto 

Mas foi breve como Haikai

Foi-se o canto 


Tanto, tanto, tanto 

Ficou o encanto 

No canto 


Franzino em meio ao pranto 

Vidas escorrem 

Mas certo é o ponto. 




(…) “foi algo passageiro, superficial.”


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Futuros Amantes


Eu já gostei muito dessa música, bem verdade. A letra, melodia e toda a semântica dessa composição me encantaram por quase duas décadas. Hoje, norteada por outros princípios, ela já não me apraz como um dia fez. Mas é verdade que a ideia de um amor que não pôde ser vivido possa ser aproveitado algum dia por outro casal, mesmo depois de milênios, me pareça criativa. 

Foi essa a explicação que o compositor Chico Buarque deu quando perguntado de onde saiu a inspiração para a canção Futuros Amantes: 

“Eu tava mexendo no violão, começando a fazer a melodia, e a primeira imagem que apareceu foi exatamente esta: uma cidade submersa, isolada de tudo. Porque, cantarolando, parecia que a música queria dizer isso. Eu tinha que ir atrás da explicação dessa cidade submersa. Aí eu coloquei os escafandristas, e surgiu a história de um amor adiado, um amor que fica para sempre. Essa idéia do amor como algo que pode ser aproveitado mais tarde, que não se desperdiça. Passa-se o tempo, passam-se milênios, e aquele amor ficará até debaixo d’água. Um amor que vai ser usado por outras pessoas, um amor que não foi utilizado porque não foi correspondido, e então ele fica ímpar, pairando… Esperando que alguém o apanhe e complete a sua função de amor.”

Eis: 🎵 

Futuros Amantes

Chico Buarque


Não se afobe, não

Que nada é pra já

O amor não tem pressa

Ele pode esperar em silêncio

Num fundo de armário

Na posta-restante

Milênios, milênios no ar


E quem sabe, então

O Rio será

Alguma cidade submersa

Os escafandristas virão

Explorar sua casa

Seu quarto, suas coisas

Sua alma, desvãos


Sábios em vão

Tentarão decifrar

O eco de antigas palavras

Fragmentos de cartas, poemas

Mentiras, retratos

Vestígios de estranha civilização


Não se afobe, não

Que nada é pra já

Amores serão sempre amáveis

Futuros amantes, quiçá

Se amarão sem saber

Com o amor que eu um dia

Deixei pra você


Não se afobe, não

Que nada é pra já

Amores serão sempre amáveis

Futuros amantes, quiçá

Se amarão sem saber

Com o amor que eu um dia

Deixei pra você


sexta-feira, 3 de maio de 2024

Águas


Duas Américas 

Dois Sul’s inundados

Sofrimento e agonia 

Vidas encharcadas 

Um só Deus