No começo do ano passado, passei por um aperto daqueles. Tinha acabado de chegar aqui nos Estados Unidos e com disposição para entender como funcionavam as coisas no novo pais de morada e as coisas na nova casa. Primeiras semanas foram meio embaraçosas. A dishwasher lavava mas não secava a louça porque eu não estava acionando o botão corretamente. A dryer parava de funcionar em exatos cinco minutos porque eu fazia confusão ao cronometrar o tempo ideal para secar e as roupas saiam de la ainda molhadas. Os sprinklers ficavam la fora girando sem medida a manhã toda.
Com o tempo, fui aprendendo como lidar com esses aparatos mas o que não esperava era ficar trancada pelo lado de fora por causa de uma porta. Uma suposta simples porta.
Sozinha em casa e de toalha (pronta para tomar banho) fui pegar minha cadela no quintal e quando voltei, a porta estava fechada. Mais do que fechada. Ela estava trancada, amarrada, presa com sete cadeados e provavelmente com um pacto poderoso com cola de sapateiro. Quando recuperei minha consciência, comecei a suar, a fazer dúzias de careta e xingar, mentalmente, mil palavras bem bonitas e mimosas. Empurrei o corpo com muita força contra a porta, girei a maçaneta 578 vezes, olhei para o céu e para o chão pedindo socorro não sei a quem mas a desgraçada estava la, sacaneando com minha cara. Era fim de tarde e o sol radiante (rindo de meu desespero, provavelmente), barulho de criança brincando pela rua (o que e' raro onde moro), vozes de gente rindo e eu... suando igual uma pamonha e pensando que diabos eu ia fazer.
Sair de toalha e pedir ajuda aos vizinhos com o inglês mixuruca que eu tinha? Não! Eu morreria de nervoso e talvez iria conseguir somente chorar. Se tivesse com roupa, me arriscaria. Mas de toalha? Tsc, tsc.
No entanto, sabia que eu precisava fazer alguma coisa e a única lâmpada que ascendeu no cabeção foi abrir o portão da lateral e passar correndo para a garagem mesmo se todo mundo achasse que eu fosse louca ou uma sem-vergonha mesmo. Fiz! Deixei minha bichinha no quintal e partí sem olhar pra cara de ninguém. Com as mãos tremendo, digitei a senha do portão e a porta se abriu. Aquilo se abrindo lentamente foi quase como estar de joelhos pagando promessa em plena peregrinação. Valimideus! Que sufoco! Me enfiei la na esperança da porta que da' acesso a casa estar aberta. Sem sucesso! Eu sempre tranco tudo quando estou sozinha ou acompanhada. Mania. Precaução. Esse e' o preço que se paga por ser precavida. Me lasquei!
Acho que estava fazendo uns 42 graus na garagem, uns 40 fora e uns 70 em mim. Pudera! Verão no Texas. Inferno! Eu estava presa em minha garagem agora. Praticamente sem roupa, sem telefone, sem uma mísera ferramenta para destrancar a porta e sem força suficiente para arromba-la.
Fiquei chorando, desejando que Superman existisse. Achei que fosse morrer sufocada naquele calor. Me senti impotente. Se pelo menos eu tivesse o líquido magico que Alice bebe no Pais das Maravilhas para diminuir o tamanho... mas eu só tinha Windex no armário. Me deitei no chão e, dormi por algumas horas. Acordei, abri só um pouquinho a porta da garagem, estava tudo escuro. Um repente: eu podia ir correndo ate a casa de minha sogra pedir ajuda, pelo menos sao 18 minutos caminhando e uns 8 botando os bofe pra fora. Mas apareceu a cena ... mulher correndo de toalha!? Não, não seria uma boa ideia. Melhor caminhar. E devagar. Sem olhar pra trás. Foi o que fiz.
Recebi um abraço, calcinhas, pijama limpo e tudo que eu precisava para uma noite inteira de sono em uma cama macia e fresca. Namorado foi me buscar bem cedinho. Estava assustado e preocupado. Eu, não mais. r
Obs 1: Nina dormiu comigo aquela noite.
2: Plenamente consciente de que muitos nesta situação agiria naturalmente, caminharia pelas ruas de toalha sem constrangimentos, faria a dança da mímica para um vizinho... afinal, poderia acontecer com qualquer um mas minha timidez nunca aparece em boa hora. Eis meu problema.