Junho, inverno brasileiro, 1984, 11:34am.
Nasci em uma manhã de inverno tropical. Não sei se o movimento dos planetas influenciam na minha jornada por causa desses números mas reverencio a minha jornada todos os dias.
Não me apego a datas, principalmente, as meramente comerciais. Sempre fui assim. Talvez, a consciência precoce sobre a efemeridade das coisas tenha sempre me levado pro momento presente, a apreciar os pequenos instantes, a agradecer pelo momento e pelos pequenos gestos. Tenho gosto pelo simples. A vida é um sopro... um sopro!
O tempo, esse mistério indefinido, tem me convidado a olhar mais demorado, a caminhar mais devagar, a observar além da superfície, a compreender melhor o curso das coisas, a pensar com mais carinho sobre tudo que difere de mim, a desatar os nós sem rasgar as sacolas e a agradecer pelos novos percalços - quaisquer que sejam eles. O tempo tem me instigado a reconectar com vozes antigas e a reler histórias enraizadas em mim.
Vejo que mudei. Muitos interesses e afinidades mudaram, algumas ideias já não são as mesmas e outras tantas estão mais sedimentadas. O que fica é a essência, essa que me norteia e me estrutura. Essa essência que transcende tempo e espaço, essa que herdei do meu pai, de minha mãe e do chão que me criei.
O tempo também me trouxe a serenidade do entendimento de minhas incompletudes. Nada me define ou completa. Sou milhares numa corda bamba. Me descobrindo, caindo, levantando, seguindo, chorando, sorrindo, me superando e celebrando tudo isso. Sempre.
Hoje, sinto tudo ainda com mais leveza. Me vejo caminhando muitas vezes na contramão e tudo bem ir pro Norte quando a maioria vão pro Sul. Somos todos um no final. Talvez, resultados da explosão de uma mesma molécula.
Além de tantas outras, o tempo também me trouxe a sensação de alegria em viver bem em minha própria pele. Aliás, sempre me senti assim. Contente com todos os meus ônus e bônus. E, finalmente, o tempo também continua me trazendo doces surpresas:
Frutos
Sementes
E flores que nascerão em qualquer primavera.