Há pouco menos de um mês a minha cidade natal elegia o candidato ao cargo de prefeito, o veterano já "conhecido" pelo povo, Jabes Ribeiro. Antes de tentar coçar ideias através desse breve desabafo, apresento um dos capítulos da história de Ilhéus.
"Princesinha do Sul" como é chamada por muitos, Ilhéos para os primeiros portugueses, Nhoe-Kome pelos tupiniquins ou Ilhéus, como é nacionalmente conhecida, tem cerca de 184 mil habitantes com uma economia baseada na agricultura, turismo e industrias.
Foi cenário de alguns romances de Jorge Amado, uma das razões pela qual atraiu milhares de turistas de vários cantos do mundo, além de possuir uma vasta extensão litoral considerada a maior de todo estado baiano. É assim nomeada por conta das ilhotas existentes no leste da região.
Já foi responsável pelo título de primeiro produtor de cacau do mundo e, por conta disso, viveu o seu momento de glória. Era no porto estrategicamente construido entre o mar, o rio e os montes que as embarcações dos fardos de cacau eram feitas para Salvador e de lá para o mundo.
Ao mesmo momento que vivia o seu apogeu, Ilhéus também sofreu com o coronelismo, forma de abuso de poder onde a "troca de favores" entre os poderes público e o privado garantia a riqueza de seus detentores.
Ali, os faraós eram aqueles que possuíam os maiores lotes de terra de cacau, os que orgulhosamente enriqueciam a custo de muita mão-de-obra escrava, os únicos pertencentes da elite tradicional ilheense, aqueles que esbanjavam banquetes e que, através de muita manipulação, obrigavam seus "escravos" a votarem em seus candidatos conseguindo assim pomposos números de votos.
O tempo passou, a vassoura de bruxa levou a "alumiação" do "ouro" e eu sempre ouvi dizer que o povo não tem memória e deixe-me dizer cá uma coisa, deixe: não tem! Nós não temos memória. Em minha cidade natal, o voto de cabresto continua. Vestindo outras capas e usando outras máscaras mas continua.
Continuamos votando e sendo comandados por fantasmas. O ranço do coronelismo ainda paira por essas bandas através dos que ainda oferecem cestas básicas, dos que nos conduzem sorrateiramente através de seus discursos sedutores e nós, famintos de conhecimento, de reflexão cautelosa, de ideias e ideais, de pão e de memória, nós vendemos nossas cabeças a preço de banana.
Nos vendemos a preço de uma micareta, de um cargo em um tal setor, de uma promoção ou de um palanque cheio de bundas rebolantes. É a velha historinha do Pão e Circo se repetindo. Avé César! E assim vamos seguindo: regredindo, comendo e nos distraindo, nos vendendo e esquecendo. Nos deixando seduzir por um discurso enganoso com essa tendência cretina que temos de nos corromper por esmola e essa outra tendência triste a de acreditarmos em promessas filhas da puta, essas propostas indecentes que aceitamos pensando somente em nosso próprio umbigo e ignorando o comprometimento coletivo. Eu disse, isso é um desabafo.
Voltando ao assunto sobre a eleição do prefeito de Ilhéus, eu era criança mas lembro de algo. Lembro pelo menos de três promessas que ele fez para o bairro onde passei toda a minha infância e parte de minha juventude: calçamento em todas as ruas, reforma da escola o qual leva o nome dele, fruto de um projeto do seu antigo mandato e a criação de duas novas praças de lazer.
Depois de quase 18 anos, seguimos sem calçamento apropriado nas ruas, a reforma na escola não foi feita nesse período e continuamos com uma coisa na entrada principal do bairro que pouco lembra uma praça.
Papeando por aí, ouvi a opinião de alguns conterrâneos sobre a eleição do novo prefeito, entres eles, a de alguns professores que se posicionaram como satisfeitos em relação ao novo líder argumentando que ele, em seus últimos mandatos, pelo menos administrou bem o pagamento de salário de forma que não houve atraso dos mesmos. Perguntas que faço: administrar eficientemente o pagamento do salário de um trabalhador é um favor? É razão suficiente para dar-se por satisfeito por uma eleição? Diante desse aspecto, qual é a situação de outros grupos, do povo em geral e da cidade? Interessa-me somente o meu salário, o dos meus colegas, o meu umbigo?
Confesso que desanimei ao ouvir de um servidor público esse tipo de comentário, há os que ainda lembram da quantidade de precatórios que existe do período Jabes Ribeiro por conta do não cumprimento de pagamento de salário em sua última administração. Supostamente, um professor deveria ter uma maior capacidade de análise afinal, comprometer-se com a educação significa também comprometer-se com a sociedade como o todo.
Jabes Ribeiro é também conhecido por ser um grande articulador político, por saber como planejar projetos e buscar recursos, contudo, os que são executados, ficam pela metade e outros abandonados. São quase doze anos de Jabes no poder e há os que ainda tem memória. O problema é que estamos cansados de termos somente grandes articuladores, esses velhos fantasmas.
Indicações que tangem de alguma forma alguns aspectos do meu desabafo:
O Grande Ditador, 1940. CHAPLIN, Charlie (filme) http://www.youtube.com/watch?v=LfbTYhX6Dqs
Tristeza do Jeca, 1961. MAZZAROPI, Amácio (filme) http://www.youtube.com/watch?v=ZGbqL_BkRYs
Ganhei coragem, 2002. ALVES, Rubem (crônica) http://www.rubemalves.com.br/ganheicoragem.htm
* Política em latim
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