terça-feira, 19 de junho de 2012

Voo a dois - Luneta 25


Uma escala, um cancelamento de voo, um telefonema e o coração na boca.
Ela estava por perto. Que sorte! Atendeu o celular e verificou o trânsito no noticiário. Não estava caótico como de costume então o convite para um café estava aceito.
Café e papo gostoso embora o barulho da multidão, típico de aeroportos, estivesse incomodando. A empresa aérea já tinha reservado a hospedagem, mas ele terminou aceitando o convite de virar a noite ouvindo o ensaio de uma banda numa garagem com alguns amigos e de jogar conversa fora com a velha amiga que não via há anos.
Depois de depositar a mala num quarto e de um banho quente, ele se oferece para fazer um café. Era fim de tarde e o dia quase frio pedia mesmo um segundo. Desta vez, um misterioso cheio de sabores. O chocolate amargo derretia no fundo da xícara se fundindo a gosto do café e a menta roçava no céu da boca. Artes dele na cozinha. O aparelho empoeirado tocava baixinho ABBA e conversa e risos se desprendiam descontraidamente.
Os anos que trabalharam juntos na fábrica trazem agora boas recordações e ele sempre soube fazê-la rir desse jeito franco e entregue.Enquanto ele falava do cotidiano, ela vagava tomada por lembranças de  outros tempos. Rapidamente, desviou o olhar desconsertado cruzando a perna e prendendo o cabelo.
Eles estavam distraídos num papo sobre haikai e os garotos estavam quase prontos na garagem. Antes, a banda precisava afinar alguns instrumentos e então, eles seriam atraídos pelo som da bateria ensurdecedora. Permaneceram sentados no sofá e o papo agradável continuou, mas eram os olhares que revelavam o que o senso negava.
Fora do seu habitat, ele ainda demonstrava discreto desconforto e insegurança através da postura tensa na beira do sofá e de gestos interrompidos. Ardente e ávida ela soube esperar sabiamente. Quando ele,  finalmente, relaxou as costas numa das almofadas ela foi até a cozinha e voltou para sentar ao lado dele oferecendo-o um copo d´água. Água que não foi bebida e que nada podia apagar.
Certos das consequências daquela aproximação, ambos começaram a se entregar.
Carícias, olhares e risos cúmplices desfeitos por abraços envolventes. Ela ainda negava seus lábios excitando-o mais e mais para que, insanamente, os dois se perdessem após terem se encontrado depois de tantos anos. 
Quando o baterista encontrou seu ritmo na garagem,  ela notou que seu corpo quente e pequeno já se encontrava descompassadamente trêmolo contra a parede fria do corredor. O rastro de roupas desapareceu dos corpos e agora a noite estava ali, inteiramente despida. 
Um beijo foi roubado, ofegante, o mais bonito e torturador. Beijou outra vez, cheirou e abraçou enquanto era arrastada pelos quatro cantos. As mãos grandes guiavam o rosto dela até os olhos dele e, com acidez a direita estapeou uma das faces. O mundo parou. Um abraço seguido de choro foi dado e palavras escavadas pelo tempo foram cuspidas na cara.
Pranto, pranto e mais abraços. Depois, somente o fogo.
Arrancou-lhe a saia, desabotoou a camisa, mordeu, beliscou, examinou e, de joelhos, abraçou as pernas dela  lançando um olhar comprido e pedinte, quase como os dos devotos em fila de procissão. Esqueceu do passado em segundos, o tempo era o Agora: abocanhou, lambeu e chupou-lhe os quatro lábios. Levantou, abraçou pela derradeira vez, acariciou o lado da face ainda quente pelo tapa e abriu-lhe as pernas com veracidade acomodando a cabeça nas coxas para ali, despetalá-la de fora para dentro em ritmo descompassado.
Respirou, suspirou e se contorceu inteira. Ele seguiu soprando e encostando a  língua bruscamente e afastando de uma outra maneira mais lenta e repetindo tudo e acabando com tudo e reconstruindo tudo. Tudo, tudo, tudo.
Lambeu e lambeu reverenciando o desabrochar e com tal intimidade como se sua língua e o clítoris fizessem parte do mesmo tecido. Subiu e beijou-lhe a boca, abocanhou suavemente os seios, brincou nos ouvidos, no umbigo e com as mechas do cabelo.
Ela viu e vislumbrou o peito. Deitou sobre os pelos. Lambeu os lábios e os olhos. Esfregou os mamilos e as partes quentes na barriga dele. Mordiscou ali e lá. Mordeu mais, apertou mais e umedeceu o falo sem nada falar. Devorou-o!
Pôs-se  roxo e teso por completo acendendo e apagando... Vagalumeando-ando, ando. Chupou e chupou. Das veias, quase escorria mel. Deslizou, empurrou e prendeu no céu da boca. Engasgou, mas respirou fundo para aquele beijo suave-sem-fim. E porque palavra não descreve, a gente geme. E ele gemeu baixinho, quase de dor, quase de prazer e avançou sem pudores. Parecendo bicho, parecendo brisa, parecendo SP apressada. Tirou, apertou o olho, esmurrou o colchão e sugou os lábios dela pela milésima vez.
Em silencio, ela o-comeu. Cavalgou. O corpo dançou ondulado, mais ainda que os cabelos. As mãos cravadas na cintura estimulavam o movimento. O mais profundo. As certezas estavam todas ali, conectadas em movimentos e palavras mudas. O corpo de pé e nu, pendeu suave nas costas feminina e as mãos de macho se encheram de ancas. Ele meteu, ela cerrou os olhos e  músculos internos. Brincou, olhou e sussurrou. Comeu! Sorriram! Abraçaram-se em concha levando as mãos nos seios num delírio gostoso. O falo aceso roçou as nádegas dela e se projetou como raio rasgando o céu vermelho. Quadril e tronco dançaram freneticamente, os lábios ficaram presos entre os dentes, o saco vibrou vigoroso entre as coxas e, juntos, sucos exalaram.
Amores escorreram entre pernas e lençóis.
Corpos deitaram em meia-lua, trémulos ainda.
Sem culpas e configurações.