sábado, 26 de abril de 2025

Geografia da Saudade

 Parece antagônico sentir saudade de alguém que vivia tão distante… mas não é. Não mesmo! Você dizia que eu era mais presente do que muitos que estavam por perto e eu te entendia. Eu te dizia que você era mais próximo do que muitos que estavam em volta e você me compreendia. A verdade, pai, é que você sempre esteve presente em mim. O meu gosto por conhecer lugares, histórias, música, pessoas e tantos outros interesses nesta vida veem de você. Tudo quanto meus olhos pousam me lembra você, sempre foi assim. Eu enchia sua memória de celular de imagens e narrativas esperando seus comentários sobre o velhinho cortando grama no final da tarde, os carros antigos nas ruas nos finais de semana, a molecada vendendo limonada no verão, o barulho da neve matinal, o prédio com ares do Velho Oeste, seu neto brincando de Rocky Balboa, o gospel da harpa cristã na rádio, as sinfonias natalinas nas igrejas, o cheiro do pão no mercado que o senhor gostava tanto, o ônibus escolar amarelo que você tinha fascínio… são tantas experiências sensoriais que me levam à você, são tantas memórias que se agigantam em mim agora que o senhor se foi… 
Você continua presente, mais ainda do que quando vivíamos distantes. E isso não é antagônico. Não mesmo. Deus sabe que não e Ele sabe o quanto te amo e o quanto te entendi.