sábado, 24 de março de 2012

sexta-feira, 23 de março de 2012

Arapuca ou Quando queremos nos expressar e nem palavra traduz


Ele aparecia sempre de manhãzinha e pousava macio-macio no arbusto molhado. Exibido que só ele, danava a cantar e ouriçar a penugem acobreada enquanto eu, da janela, coava o café.
O bicho cantava com uma boniteza espantosa e com ele, toda uma orquestra: besouros, gaivotas, sapos e grilos.
Era um papa-capim e eu o queria! Queria prendê-lo. Prender  para sempre aquele canto  fugaz em mim, tão exposto ao nunca-mais...
Um dia, decidi armar uma arapuca. Com muito cuidado, preparei a caixa. Talisca por talisca. Barbante bem apertado, o fecho da porta o máximo flexível ao ponto que qualquer trisquin e ele já estaria ali, preso, cantando à minha disposição. Para sempre.
Acordei no cochichar do dia, coloquei o grão dentro da arapuca e, ansiosa, corri pra perto da roseira. Voltei o olhar em direção das laranjeiras e lá vinha ele desfilando suave em plena neblina leitosa para me regalar aquele canto de mundos desconhecidos.
Deslizando pelo cardeal Norte, diminuiu a velocidade e quando já ia pousar, um vento soprou a arapuca e, de um só golpe, a fruta ele roubou.
Tadinha de mim! Sonhei possuí-lo e ele voou.
O papa-capim fugiu levando o doce da fruta.
Igualzinho a Palavra.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Meu primeiro Haikai


                                                                 Junho começa
                                                                 lembranças daí voam
                                                                 pousa passado!



quarta-feira, 21 de março de 2012

domingo doce



Acordei com Chico (nome do novo CD de Buarque), um lírio no copo d'agua, um bilhetinho que sussurrava coisinhas e um verso da faixa 3 na mesa de cabeceira.
Duvido que alguma abelha tenha provado algo mais doce.