domingo, 2 de outubro de 2011

Continuação de carreira nos EUA - Parte 1


Talvez uma das etapas mais angustiantes de quem chega aqui sem um trabalho garantido seja exatamente buscar um trabalho, mais especificamente em casos como o meu.
Eu estava no início de minha carreira quando vim para os Estados Unidos, cheia de planos e ideias direcionadas ao meu trabalho. Cheguei com o mínimo de inglês e com pouca ideia de como minha carreira aconteceria aqui mas com a firme intenção de continuar, mesmo consciente das dificuldades que eu poderia enfrentar ou de possíveis mudanças no script.
Um ano e seis meses de resultados positivos em relação aos steeps que, antes de tudo, eu precisava realizar. Pronto. Hora de trabalhar. Mas por onde começar?
Eu decidi começar por onde eu já havia há nove anos: trabalhar com Educação. O caminho tem sido árduo e estressante. São muitos documentos para solicitar, reformulação de projetos, testes, verificação de grade curricular e carga horária de cursos extra curriculares. É muito chão nesse processo e por mais que você tenha quem te ofereça uma mão, muitas vezes, parece que a batalha é só sua. E acaba sendo. Ninguém vai lutar por sua carreira por você. 
Segundo a consulta que recebi, uma vez que você tenha uma graduação ou pós-graduação em uma universidade no Brasil, você precisa verificar se o seu curso tem equivalência curricular com o curso correspondente aqui. As consultas podem ser marcadas nos departamentos de educação do estado onde você mora nos EUA. Lembrando, cada departamento, a depender do estado pode adotar critérios diferentes para avaliação do processo mas pelo que percebi, quanto maior a carga horária e semelhança em termo de conteúdos, maiores as chances de você conseguir revalidar o seu curso aqui podendo precisar cursar apenas algumas disciplinas. Eu não tenho muito a contribuir sobre esse assunto porque ainda estou no começo de meu processo e as informações que tenho ainda estão cruas entretanto, não dá para passar por todo esse processo burocrático sem fazer algumas reflexões. No momento, eu tenho inúmeras, mas só vou deixar uma.
 Eu não acho que os ministérios de educação dos países não devam avaliar, de alguma forma, o título profissional de um estrangeiro. Mas o que percebo é que a conclusão do direito de poder continuar com uma carreira em um pais estrangeiro não pode ser regulado a partir da obtenção de uma pasta de documentos ou um A computado em um teste porque, supostamente, não são somente documentos e testes que decidem a sua formação e diploma. Eu acho injusto que alguém tenha uma formação, seja qual for, e mude para outro pais e tenha que se submeter a trabalhar naquilo que 'eles' decidem. As universidades de medicina em Cuba, por exemplo, são consideradas uma das melhores em todo mundo mas quando um/a cubano/a chega aqui, independente dos anos de experiência, precisa refazer o curso de medicina em uma universidade aqui. Alguma chance de pelo menos agregarmos conhecimento e nossa bagagem nessa sociedade? É como se tudo que você aprendeu juntamente com suas habilidades fossem desconsideradas. Então, porque essas instituições de conhecimento são nomeadas UNIVERSIDADE? Vale uma pesquisa sobre a origem do nome. 
 Eu, ironicamente, refiro a mim mesma nessas consultas como "sortuda". A minha grade curricular tem equivalência com um curso correspondente aqui no Sul dos EUA. Mas enquanto esse processo longo e chato rola, eu poderia estar esperando. Esperando chateada e indignada. Eu tinha dois caminhos: 1- ficar remoendo agonias enquanto um grupo de pessoas decide o curso de minha vida profissional aqui ou... 2- tentar fazer algo inusitado por mim. 
Eu preferi a opção 2 e tenho me surpreendido.  Que bom!

2 comentários:

Eliane Pechim disse...

Adorei seu post, principalmente quando você diz (muito bem) que ninguém vai lutar pela sua carreira por você. É isso mesmo. As pessoas podem até te dar um suporte psicológico, motivar você, mas no fim essa batalha é sua e você está por sua própria conta e risco. Essa coisa do currículo aqui ser diferente e de eles não aceitarem um diploma de outro país é como você disse mesmo. Mas não é só aqui, no Brasil também existem regras como essas para estrangeiros que se formaram nas áreas de ciências em outros países. Acho que a frustração maior é o que você disse, não ter a liberdade de escolher a área que você quer porque está limitada a essas regras e exigências. E esse recomeçar de novo, profissionalmente, depois de anos de carreira no Brasil é que a parte mais injusta. Sei bem porque comecei a investigar na minha carreira e embora eu não precise estudar tudo de novo, precisaria de um Master Degree na área que eles querem, tirar minha license aqui em MI, mas só depois de assistir a classes específicas. Não é um porre? Sem isso não consigo atuar. Eu simplesmente desisti e pro ano que vem vou começar em outra área, porque minha necessidade de trabalhar fora é infinitamente maior que minha necessidade de atuar na área que eu atuava no Brasil. Apesar de amar. Chato ter de fazer essa escolha. Boa sorte, você tá no caminho certo. Beijo

Luz disse...

Pois e', Eli. A motivação em continuar só apareceu diante das possibilidades que se apresentaram do contrario, eu já estaria pensando em colocar o plano B em ação. Sempre tive vontade em fazer uma extensão do curso que me graduei no Brasil, se isso e' possível aqui, eu tentarei. Se a vontade passar, o negocio e' partir pra outra. Obrigada por estar torcendo por mim.