segunda-feira, 23 de junho de 2025

Recomeços


        Temos uma murta de crepe do lado de fora da janela de nosso quarto. Essa é a mesma árvore em estações distintas. Esse arbusto que tanto aprecio tem ilustrado acontecimentos em minha vida nos últimos 7 meses. Essa planta tão dinâmica tem mostrado como Deus é misericordioso e perfeito na execução dos planos d’Ele em nossas vidas.

      Eu tenho um hábito antigo de recolher-me no   inverno, fico para pouquíssimos, é um costume natural. Não tem a ver com ânimo, mas com modos. Eu continuo vivendo tudo igual mas de forma diferente. Há muitos anos eu percebo que, assim como alguns animais e plantas, eu tenho uma vontade involuntária de ouvir mais e falar menos, de ler mais, de criar, de parar e me demorar observando coisas que, em outros momentos, não coloco tanta atenção. 

    Coisas simples como olhar folhas caindo das árvores, o sol nascendo, a noite chegando, o barulho dos animais lá fora… a introspecção, de fato, toma conta de mim como um animal em pleno processo de hibernação e eu fui aprendendo ao longo dos anos a viver no ritmo invernal que me envolve nessa época.

         No meio do inverno, em um dos meus silêncios, perdi de forma inesperada, o meu pai, o primeiro homem mais importante da minha vida. E, de repente, um inverno começou dentro de outro inverno, os dias que eram curtos pareciam não terminar, o céu tão cinzento mais parecia um pântano esfumaçado, os galhos secos das árvores contradiziam os olhos que derramavam lágrimas incessantes e o frio quase não se sentia comparado a dor.

     Quantas e por tantas vezes não sentei-me olhando para essa árvore e, em orações, agradeci a Deus ainda com a alma embebida de dor? 

        Depois das folhas outonais, veio o inverno e, em seguida, a primavera. Pouco a pouco os galhos secos da murta crepe começaram a encher de pequenos pontinhos brancos… era o prenúncio da chegada das flores! E, então, a árvore antes seca, foi enchendo seus ramos de folhas e flores.

        Chega o verão, os ramos parecem mais firmes e viris, as folhas verdes são vibrantes e bem definidas, uma explosão de vida diante dos meus olhos.  

         Meu pai se foi. A murta de crepe me lembra que toda natureza proclama a glória de Deus e que nada foge dos seus planos, que tudo tem lugar e hora. Como é bom descansar no Senhor mesmo quando sorrimos no inverno e choramos na primavera. Que bom poder recordar, enquanto olhamos flores em um arbusto, que a vida segue e que temos um pastor: Jesus, âncora da minha vida! 


     

                        

                       


                                               


                                      

                

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