domingo, 20 de março de 2011

Do que aprendo ensinando


Dia de expectativa. Um trabalho voluntário. Muita responsabilidade.
Como instigar em jovens a vontade de aprender a ler e escrever em sua Língua Materna em um pais de Língua Estrangeira?
Depois do convite para o trabalho, a cabeça ficou matutando durante dias e dias. Meses. Elabora atividades, faz leituras, rascunha, pergunta, rabisca, risca, telefona, compra livros, troca ideias com colegas e reflete.
Todas as atividades estavam prontas para o primeiro dia. A ansiedade era grande, parecia a primeira vez que entraria numa sala de aula como professora e eis que um dia antes deste primeiro, ela  muda o roteiro.
 Nada de conceitos. Nada de regras. Nada de averiguação de conhecimento especifico.
 I'm so sorry, coordenação pedagógica mas eu ainda troco a pratica educacional chata, retrograda e brochante por uma que estimule o encantamento e curiosidade.
E começamos assim de um jeito simples e leve. Sutil. Sem cobranças e regras.
Abri minha caixa imaginaria e soltei os personagens da estoria El pintor de Recuerdos de Jose Antonio del Cañizo.  iQue libro hermoso!
Enquanto os personagens em mim carregavam o livro na mão, eu observava os olhares que também me ensinavam a ler historias através dos olhos entusiasmados e curiosos. Eu já não era uma professora na sala com uma caixa de personagens e contos, eu era uma aprendiz. Aprendendo ao passo que ensinava.


Que dia bom!



"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".

(Rubem Alves - “Quarto de Badulaques”  - Cronica publicada  no Correio Popular 17/04/2005 ) 

2 comentários:

Eliane Pechim disse...

Já te desejei tudo de bom nessa nova empreitada, né? Não daria certo comigo, não tenho sua paciência nem entusiasmo para o ensino, mas gosto de apreciar o trabalho de professores que tentam fazer a diferença mesmo quando o salário, o ambiente ou os próprios alunos não animam muito. Minha irmã é professora e ela disse que na maioria dos dias é um desafio, mas que tudo faz sentido quando ela vê ali na sala, perdido, um aluno, um único, onde ela consegue ver um sinal de esperança, que ali na escola pública significa que amanhã ela não vai ver as fotos dele no jornal preso ou morto por tráfico de drogas (já rolou com vários ex-alunos dela) e ele ou ela vai construir para si mesmo ou mesma uma historia completamente diferente da tragedia social que o circunda. O dia que ela me falou isso ate me emocionei, porque esse é um trabalho gigante de formiguinha, dia a dia e um tantinho de esperança. Beijo

Luz disse...

Eli - Quando você citou a fala de sua irmã, foi impossível não me identificar e olha que comecei a carreira faz pouco. Mas e' tanta coisa que você vê dentro dessa área que há momentos que os sentimentos de esperança e tristeza se agigantam e contrastam ao mesmo tempo. Em uma sala de aula do Ensino Publico, por exemplo, vê sinal de esperança em um único e' sentir tristeza e alegria ao mesmo tempo. Agora experimenta conviver com esses dois sentimentos neste contexto. Tem hora que ate eu penso que tb não e' pra mim.